terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Jogos Históricos: XV de Jaú x Rio Claro



Epopeia é a narrativa heróica, uma coleção de feitos e fatos históricos, de um ou de vários indivíduos, reais, lendários ou mitológicos. A epopeia consagra e eterniza lendas seculares. Muitas epopeias acontecem ao nosso alcance. Várias jornadas heróicas ocorrem, às vezes, onde e quando menos se espera.

Em 2005, o técnico Paulo Roberto retornava ao Rio Claro com a promessa de alçar vôos cada vez mais altos.  Uma ótima campanha levou o Rio Claro à segunda fase da Série A3 daquele ano. Disputada em dois quadrangulares, tal fase levaria os dois primeiros colocados de cada grupo à Série A2. O último e derradeiro jogo foi uma briga de galos, contra o XV de Jaú na casa do adversário.

Se o jogo, por si só, já foi eletrizante e emocionante, tais características apenas se intensificam quando voltamos ao contexto daquela partida e ao momento em que ela aconteceu.

O Rio Claro vinha de uma parceria extremamente malsucedida com a empresa 90 Minutos em 2004. Após a saída desse grupo, o clima de desconfiança tomava conta de todos. Contudo, isso foi sendo superado, aos poucos, com a boa participação que fazia o Azulão na A3 de 2005. Parecia que Paulo Roberto tinha conseguido restaurar a paz no clube.

Além de tudo, o Rio Claro não era favorito. Apesar da ótima campanha, haviam sido três confrontos contra o Galo da Comarca no campeonato, todos com vitória quinzista, sendo que dois deles em Rio Claro, e um desses já no quadrangular final.

Com a classificação momentânea, a matemática era simples: o XV jogava pelo empate, em casa, e o Rio Claro precisaria ganhar o jogo. Não tão simples quanto a matemática era a vida do Azulão.

O técnico Paulo Roberto vivia a expectativa de poder escalar sua dupla de ataque titular: Luciano e Luciano Gigante, que recuperavam-se de contusão. E, a o contrário do que se esperava, ambos entraram em campo. Como o herói das epopeias, que, quando a derrota é iminente, levanta-se e justifica a alcunha de guerreiro.

Estádio estava lotado. No canto direito da imagem, a valente torcida rioclarista
Para apimentar ainda mais o enredo, o estádio Zezinho Magalhães estava repleto. Mais de 13 mil torcedores do XV marcaram presença, e a valente torcida do Rio Claro também esteve lá, com aproximadamente 400 torcedores.

A vitória do XV praticamente fazia parte do roteiro. O cenário era ótimo para uma glória dos donos da casa. Mas a trama seria ainda mais espetacular para os visitantes.
Faltava apenas o gran finale...

O jogo

Precisando da vitória, o Galo Azul foi pra cima logo no início. Leandro Diniz chegou bem ao ataque e chutou. No rebote da defesa, Luciano Gigante mandou pra fora. Contudo, em um contragolpe quase mortal, os anfitriões retrucaram. Só foi quase mortal porque o goleiro Juninho evitou bem o gol adversário. Ficava claro que, apesar de ter que ir pra cima, o Rio Claro precisaria ter cautela com o sistema defensivo.

Nessa tônica corria a partida. O Azulão atacava e o XV era incisivo nas poucas oportunidades que tinha. Em uma delas, aos 27 minutos, o zagueiro Luisão tirou em cima da linha a bola que fatalmente morreria nas redes de Juninho. Apesar de poucos, os ataques do XV eram eficientes.

O Rio Claro atacava mais e, aos 33, começou a se vislumbrar o desfecho inesperado dessa história. Luciano Gigante recebe na meia lua, de frente com o goleiro Rafael. Bola no canto, gol do Rio Claro. O estádio calou-se vendo a bola entrando no canto direito da meta do XV. Não seria a primeira vez que esse silêncio ocorreria naquela manhã.

Agora quem tinha que correr atrás do prejuízo era o XV de Jaú. Aos 39, Allan Júnior recebe bola e chuta. Ela passa perigosamente à esquerda do gol. Fim do primeiro tempo: 1 a 0 Rio Claro.
No segundo tempo a equipe da casa volta com tudo.  Pressionando e acuando o Rio Claro, o XV parecia que não iria demorar a empatar. Era parte do roteiro.

Então, aos 27, o lateral Dudu avançou com a bola, cortou o zagueiro e bateu no canto. A bola passa sob o goleiro Juninho, que fazia boa partida, e provoca uma explosão no estádio. 13 mil vozes, juntas, comemoravam o gol que dava o acesso ao XV. Dudu tinha se transformado, momentaneamente, em protagonista.

Os donos da casa, agora em vantagem, seguravam bem o resultado. E tudo parecia ficar ainda melhor quando Jonas, do Rio Claro, foi expulso ao reclamar com a arbitragem a respeito de um chinelo arremessado quando ia cobrar um escanteio. Segunda explosão no estádio. Seria a última.

Abatido, o Galo Azul parecia derrotado. E isso quase se concretizou quando, em outra investida quinzista, a virada esteve próxima. Após boa tabela do ataque do XV, Juninho fechou bem o ângulo e evitou o gol. Depois, em mais um ataque, o arqueiro rioclarista foi driblado, mas o atacante adversário errou o alvo, com pouco ângulo para chutar.

O roteiro parecia estar completo. Apenas parecia... Faltava alguma coisa. Faltava o clímax. O momento em que o herói faz jus à reputação, não desistindo e conquistando as batalhas que parecem estar quase perdidas.

A torcida do XV preparava a terceira explosão. Não aconteceu. Aos 47 do segundo tempo, Wilson, zagueiro do Rio Claro, dominou a bola e a entregou a Lucas Baía. Lucas Baía fez o passe para Luciano Gigante, que foi de coadjuvante a protagonista em um único lance. Corte no zagueiro, chute no alto, bola na rede. Perplexos 13 mil espectadores assistem, calados, à festa de uma nação. Os 10 homens de azul no gramado, junto com outros 400 nas arquibancadas, tomaram conta do cenário.

Time do Rio Claro em Jaú
A terceira explosão não ocorreu em Jaú. Ocorreu no coração de cada rioclarista. Ocorreu nas salas, nos bares. Ouvindo o jogo pelo rádio, ou vendo pela televisão. Rezando ou chorando. Mudos de alegria ou escandalosos. Independentemente de tudo isso, uma nação esteve unida por um laço: a bola, que agora, descansava, dentro do gol do XV de Jaú. E assim como fomos do improvável à glória, de coadjuvantes a protagonistas e de desacreditados a vencedores, a lágrima de tristeza converteu-se em alegria.

Com a épica vitória por 2 a 1, o Azulão conquistava o acesso à Série A2 de 2006, onde conseguiria novamente o acesso, integrando a elite em 2007. Mas essa parte da epopéia fica para outra oportunidade.

Felipe Altarugio

Ficha Técnica

XV de Jaú 1 x 2 Rio Claro
Local: Estádio Zezinho Magalhães, em Jaú/SPData: 19/06/05
Horário: 11 horas
Árbitro: Marcelo Rogério
Cartões Amarelos: Shizo (XV de Jaú); Baiano (Rio Claro)
Cartão Vermelho: Jonas (Rio Claro)
Público: 13.024 pagantes
Gols: Dudu aos 27 /2T (XV de Jaú); Luciano Gigante aos 33 /1T e aos 46 /2T (Rio Claro)
XV de Jaú: 
Rafael; Chibé (Wellington Silva), Rosimar (Robson Silva), Róbson Silva e Dudu; Edílson, Maurício (Lucas Bahia), Shizo e Wellington Costa; Allan Junior e Guto (Viola).
Técnico: Edison Só
Rio Claro
Juninho; Dener, Luisão e Wilson; Baiano, Vágner, Vieira, Leandro Diniz (Jonas) e Edinho; Luciano (Galvão) e Luciano Gigante.
Técnico: Paulo Roberto


3 comentários:

  1. meus olhos já enchem d'agua só de ler e relembrar esse momento

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  2. Realmente um dos jogos mais emocionamtes de nossa história, senão o MAIS emocionante.
    Sei que pra mim foi o mais emocionante que já estive presente e tem coisas que são impossíveis explicar em palavras pois somente aqueles 400 torcedores que estiveram lá sabem realmente o que foi aquela partida, SENSACIONAL ou, simplesmente, ÉPICA!

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  3. TIMAÇO!

    Rio Claro:
    Juninho; Dener, Luisão e Wilson; Baiano, Vágner, Vieira, Leandro Diniz (Jonas) e Edinho; Luciano (Galvão) e Luciano Gigante.
    Técnico: Paulo Roberto

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